De 15 de outubro de 2025 a 15 de março de 2026
Temos o prazer de anunciar a oitava edição da KISMIF INTERNATIONAL CONFERENCE “DIY Cultures, Crisis and Critical Imagination” (KISMIF 2026), que terá lugar no Porto, Portugal, entre 7 e 11 de julho de 2026. A submissão de resumos para esta Conferência está aberta a investigadores/as, académicos/as, ativistas e artistas que trabalhem em todas as áreas da sociologia, antropologia, história, economia da cultura, estudos culturais, geografia, filosofia, planeamento urbano, media e disciplinas afins, como design, ilustração, música popular, cinema, artes visuais e performativas. Esta iniciativa retoma o grande sucesso das sete edições anteriores da KISMIF (realizadas em 2014, 2015, 2016, 2018, 2021, 2022 e 2024) e reúne uma comunidade internacional de investigadores/as, artistas e ativistas focada em cenas alternativas de música-arte e culturas do “faça-você-mesmo”. Assim, a KISMIF 2026 será um momento-chave de reencontro e imaginação crítica em torno da fragmentação societal moldada pelas múltiplas crises que vivemos numa escala sem precedentes.
A KISMIF CONFERENCE 2026 oferece um fórum único onde participantes podem discutir e partilhar conhecimentos sobre culturas alternativas e práticas DIY de todo o mundo. A KISMIF centra-se em práticas culturais frequentemente opostas a formas mais convencionais, massificadas e mercantilizadas de produção e mediação cultural, e nas ideologias anti-hegemónicas em torno das políticas estéticas e de estilo de vida que tipicamente se inscrevem na cultura DIY. A KISMIF é a primeira e, até à data, a única Conferência no mundo que examina a teoria e a prática da cultura DIY como uma forma de prática cultural cada vez mais significativa num contexto global marcado por incertezas e riscos. A conferência adota uma abordagem multi-/transdisciplinar, aceitando contribuições de académicos/as, artistas e ativistas envolvidos/as em todos os aspetos das cenas alternativas e das culturas DIY, e baseadas em várias metodologias — abordagens quantitativas, qualitativas e multimétodo. O objetivo é discutir não apenas música, mas também outros campos artísticos como cinema e vídeo, graffiti e arte urbana, teatro e artes performativas, literatura e poesia, rádio, programação e edição, design gráfico e web, ilustração, cartoons e banda desenhada.
Procurando responder ao desejo reiterado por investigadores/as, artistas e ativistas presentes em edições anteriores da KISMIF, a oitava edição focar-se-á em “Culturas DIY, Crise e Imaginação Crítica”.
Desde o início do novo milénio, o mundo tem mergulhado numa série crescente de incertezas e riscos, abrangendo ameaças económicas, ambientais e, mais recentemente, pandémicas à estabilidade das nações em todo o mundo. Em meio a estas mudanças rápidas, assistimos a vagas crescentes de guerra, agitação social e políticas cada vez mais extremistas adotadas por governos nacionais para conter e subverter o protesto e várias formas de ativismo.
No panorama contemporâneo, as Culturas DIY (re)emergiram como expressões vívidas de agência coletiva e resiliência. Enraizadas em práticas de fazer, reparar e reimaginar, estas culturas desafiam modos consumistas e passivos de produção cultural. Intimamente ligada a este ressurgimento está a imaginação cívica, isto é, a capacidade coletiva de conceber outros mundos possíveis e de os concretizar através da prática cultural participativa. Definida como a capacidade de imaginar alternativas às atuais configurações sociais, económicas e políticas, a imaginação cívica é cada vez mais central nas formas como as comunidades respondem à crise. Paralelamente, makerspaces feministas surgiram como espaços sustentados e politicamente ancorados de inovação e solidariedade. Estes espaços demonstram que o DIY não se esgota em ferramentas ou resultados, mas sim em incorporar valores igualitários nas formas e práticas organizacionais do quotidiano.
Face à intensificação da policrise que caracteriza a conjuntura global contemporânea — envolvendo autoritarismo político, degradação ambiental, instabilidade económica, migrações forçadas e plataformização digital da vida social — o tema das Culturas DIY, da crise e da imaginação crítica impõe-se como domínio crucial de investigação sociológica, cultural e política. As teorizações sobre imaginação cívica e futuros colaborativos sublinham a sua dupla função: a capacidade de imaginar arranjos socio-políticos alternativos e a capacidade de nos percebermos a nós próprios e às nossas comunidades como agentes ativos na sua realização. Isto ressoa fortemente com tradições da sociologia da cultura que posicionam a produção cultural de base como prática simultaneamente simbólica e material de resistência.
Estudos empíricos recentes sobre makerspaces feministas e comunitários e sobre hackathons para o bem comum demonstram como as práticas DIY constituem infraestruturas de imaginação: redes socialmente enraizadas de recursos, narrativas, competências e relações que sustentam capacidades coletivas de resposta às crises através de investigação criativa e participativa. Nesta perspetiva, as culturas DIY não só se opõem a modos dominantes de produção cultural, como funcionam enquanto políticas prefigurativas, encenando modos alternativos de governação, de troca económica e de (re)produção social. Além disso, a investigação em geografia cultural crítica e estudos dos media mostrou que estas práticas operam através de configurações escalares — desde intervenções hiperlocais no espaço público até colaborações digitais transnacionais — ampliando os terrenos onde a imaginação cívica pode ser mobilizada. Em contextos de retrocesso democrático, a intersecção entre experimentação estética, ativismo cultural e potencialidades tecnológicas abre vias para uma cidadania cultural contra-hegemónica.
Neste enquadramento, as Culturas DIY operam como laboratórios dinâmicos de inovação social, particularmente eficazes em contextos de falha institucional ou inércia política, como observamos hoje em vários países, incluindo Portugal. Por exemplo, coletivos de media de base têm surgido nas periferias urbanas para documentar injustiças ambientais, utilizando ferramentas de baixo custo e código aberto para recolher e disseminar evidências de poluição, deposição ilegal de resíduos ou riscos climáticos. Tais iniciativas não só colmatam lacunas imediatas de informação, como também catalisam o envolvimento cívico ao reframar questões ambientais como matérias de responsabilidade coletiva e de direitos civis. De modo semelhante, projetos comunitários de reconstrução pós-desastre — como a reconstrução cidadã de espaços culturais após catástrofes naturais — demonstram a adaptabilidade das redes DIY na mobilização de recursos, conhecimento e resiliência emocional para além dos canais formais de ajuda.
Vários autores investigaram a democratização do processo de design tecnológico em comunidades com poucos recursos através da reutilização criativa de e-lixo. Com base nesses dados, identificaram três fatores-chave: equilibrar necessidades pessoais e comunitárias, valorizar conveniência e produtividade e redefinir sustentabilidade e conexão social. Este estudo mostra como as práticas DIY atuam como infraestrutura de imaginação coletiva, criando tecnologias significativas e contextuais como resposta proativa a crises socioambientais. O projeto Department of Civil Imagination, organizado no âmbito da rede RESHAPE, concebeu igualmente um laboratório imaginário e colaborativo através do qual artistas, investigadores/as e ativistas se reúnem para reimaginar o espaço cívico e os futuros pós-crise. Esta iniciativa, por sua vez, exemplifica como a cultura DIY pode ser um catalisador de imaginação cívica transformadora, operando nos interstícios institucionais. Em linha com este espectro teórico, Henry Jenkins dedicou-se ao conceito de imaginação cívica, sob a lente das políticas participativas juvenis, e ao conceito de imaginação crítica; em suma, redefinindo modos de participação e de imaginar novas formas de democracia.
A imaginação crítica incorporada nas práticas DIY pode também ser entendida através de intervenções urbanas participativas que prefiguram futuros alternativos. Entre os exemplos contam-se instalações públicas temporárias, construídas coletivamente, que reclamam espaços privatizados ou abandonados para uso cultural e social, desafiando de forma eficaz narrativas dominantes de desenvolvimento urbano e gentrificação. Além disso, makerspaces feministas funcionam frequentemente como ambientes de partilha de competências e coletivos políticos, integrando oficinas de programação, reparação ou fabrico sustentável com diálogos sobre justiça de género e crítica anticapitalista. No plano digital, plataformas colaborativas de artivismo online têm facilitado campanhas de solidariedade transnacional, ligando artistas, ativistas e investigadores/as em respostas coordenadas a repressões autoritárias ou censura cultural. Em todos estes casos, o ato de fazer torna-se inseparável do ato de imaginar de outro modo, produzindo artefactos, espaços e narrativas tangíveis que perturbam ordens existentes enquanto modelam alternativas inclusivas e sustentáveis.
Nos últimos anos, o artivismo tornou-se uma vertente definidora da prática cultural DIY em tempos de crise. Seja através de murais de rua que reclamam bairros gentrificados, performances de guerrilha que expõem a inação climática, ou intervenções digitais que perturbam narrativas controladas pelo Estado, o artivismo opera na intersecção entre produção cultural e agência política. O que observamos é que o artivismo é uma prática — um ethos e uma práxis — que transforma o espaço público num lugar de contestação e possibilidade, permitindo às comunidades expressar dissenso enquanto imaginam futuros alternativos. Enquanto forma intrinsecamente DIY de imaginação crítica, o artivismo resiste à mercantilização da cultura e contorna os guardiões institucionais, muitas vezes operando com orçamentos mínimos e através de redes organizadas horizontalmente. Prosperando em momentos de instabilidade, o artivismo reformula a crise não como um impasse, mas como um espaço de invenção estética e política. Ao combinar disrupção simbólica com autoria coletiva, o artivismo corporiza o ethos do DIY e do DIT (do-it-together), sublinhando que criatividade e cidadania são inseparáveis.
Em 2026, o programa científico da KISMIF será novamente acompanhado por uma oferta diversificada de conteúdos sociais e culturais, marcada por uma série de eventos artísticos com especial foco na imaginação crítica e na cidadania. O objetivo é proporcionar uma experiência única em termos de Culturas DIY transglobais e inclusivas e Imaginação Crítica. A KISMIF Conference 2026 será antecedida por uma Summer School intitulada “Clash the future! CTRL + ALT + RIOT”, que terá lugar a 7 de julho de 2026 no Batalha Centro de Cinema. Esta Summer School oferecerá a todos/as os/as participantes, incluindo congressistas, a oportunidade de frequentar oficinas ministradas por especialistas em diferentes áreas — incluindo imaginação crítica, entre outras. As informações sobre a Summer School serão divulgadas progressivamente no site da KISMIF Conference: www.kismifconference.com
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